CooperCasa

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A nossa nova casa mental

sexta-feira, 23 de março de 2012

A dança dos zumbis


A operação “chuta pombos” parece ser o pontapé inicial para resolver o assunto mais evitado das duas últimas décadas.  A cracolândia paulistana, pois que há as paulistas, as nacionais e as internacionais, é o ponto de supuração de um abcesso psicossocial que se alastra pelos subcutâneos das aparências metropolitanas. Inicialmente era apenas uma celulite que denunciava os descuidos pessoais em função de se manter o glamour de um status psicossocial: eu sou o que eu tenho.  Como a celulite não dava mais para disfarçar, pois sempre, invariavelmente, em algum momento, havemos de ficar desnudos diante nós mesmos, acabamos aceitando qualquer ideia ou atitude que nos leve a um alívio imediato para esta angústia existencial.  Esta é a porta de entrada paras as pequenas corruptelas da vida: o medo da realidade.  Os predadores sociais de plantão fazem apenas o que a presa quer oferecendo uma saída rápida e fácil para as “dores” do real tamanho.  Aplicações “milagrosas” de substâncias “detergentes” corrompem a proteção queratínica da pele e atingem o subcutâneo causando um efeito imediato de satisfação pessoal por se recuperar a fantasia e o glamour das aparências.  Porém, como tudo continua irreal, a agulha que rompe a pele trás também bactérias que corrompem o subcutâneo iniciando um processo infeccioso sutil e insidioso que culmina em abcessos que se lastram diante da indiferença e acabam supurando em algum momento.  Novamente, por hábitos arraigados, se aceita as saídas rápidas e fáceis dos curativos de superfície, como “band aids” sócio políticos de efeito apenas higiênico. A submissão ao curativo é aparentemente feita por livre escolha e voluntária, mas é principalmente pela desinformação que a aceitamos e por que “precisamos” continuar a “faturar” a satisfação egóica. Neste cenário fantasioso é que permitimos que o abcesso se alastre numa erisipela incontinenti de subterfúgios psicossociais aplicados sem critérios, a esmo mesmo, enquanto o sol continua atravessando a peneira de nossas consciências.
A pergunta a ser feita então é – o que fazer?  De certo que não existe uma saída rápida e fácil para a epidemia de dependência química seja de álcool, de drogas e/ou de medicamentos. O que está claro é que se continuarmos fazendo as mesmas coisas não podemos esperar resultados diferentes. Voltamos à era pré-Pasteur onde não se acredita mais em bactérias e não se lava mais a mãos antes de comer – lavam-se as mãos tal qual Pilatos, mas só depois que morder uma das fatias de um “bolo” com ingredientes corruptos. Honestidade, mente aberta e boa vontade tornaram-se valores éticos e morais que incomodam “o livre pensamento” e quando se fala desses valores humanos básicos corre-se o risco de se estar saindo da curva estatística da normalidade. E lembrando que a curva normal, conhecida também como moda em estatística, contempla apenas o que mais acontece, mas não indica o que é bom nem o que é belo e muito menos o que é verdadeiro.  Cabe ao foro íntimo de cada um rever seus hábitos, seus pensamentos e seus sentimentos e não mais se deixar levar pelas ondas que a propaganda e o marketing propagam, seja boca a boca ou pelos meios de comunicação de massa. Cabe aqui outra pergunta – onde então encontrar a informação que me libertará dessas atitudes repetitivas e inconscientes?  Várias são as fontes de informações e muitas delas são até contraditórias, relembrando o método “Abelardo Barbosa” (o Chacrinha) que não veio para explicar e sim para confundir. Com certeza algumas ideias não se questionam mais apesar de já terem sido muito polêmicas, por exemplo, na época de Oswaldo Cruz quando o Estado precisou intervir obrigando a população a aceitar a vacinação tida como um desrespeito ao direito de escolha do indivíduo. 
Neste mundo contemporâneo, a ideia do livre arbítrio é utilizada para induzir comportamentos de consumo, inclusive e principalmente o de álcool e de outras drogas.  Você decide “livremente” estudar, trabalhar e juntar coisas e depois tem o direito a um “happy-hour” consumista.  Porém só é realmente livre em suas decisões aquele que está de posse e compreendendo todas as informações existentes sobre um determinado assunto. E para isso necessitamos de tempo e de disposição interna para não decidir ás pressas, tal qual ensina os manuais mais tacanhos de compra e venda. E mesmo depois de obtermos todas as informações e ainda ficarmos em dúvida? Neste caso cabe a regra de ouro dos investigadores e também dos investidores: na dúvida, não faça nada e também não diga nada.  Temos o direito de escolher livremente, inclusive de admitirmos que não se tem uma opinião formada sobre qualquer assunto . E se era para ter dito ou feito?  Haveremos apenas de arcar com as responsabilidades do atraso que é muito mais justo e honesto do que tentar retirar o que já foi dito ou desfazer o que já foi cometido. 
Em suma – a aceitação do nosso real tamanho, buscando as informações que nos auxiliem a estudar nossas dificuldades sem medo e sem culpa, permitirá desenvolvermos o senso de responsabilidade pessoal e social. Assim poderemos livremente não mais aceitar esse modelo de sofrimento como desculpa para os alívios imediatos: será possível ter um “happy-day” no final do qual nos sentiremos real(izados) e dispensaremos as fantasias e o glamour de qualquer tipo de “droga”.