CooperCasa

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A nossa nova casa mental

quinta-feira, 23 de maio de 2013

PSIQUIATRIA "AMERICANALHADA"

A “american way of life” não é referência de uma vida mental sadia.  Tempo é dinheiro, almoço de negócios, horas extras de trabalho, “happy hour”, produtividade é competitividade, relações humanas de poder e controle: são metas de vida guiadas pelo consumo sem sentido. Idealismos heróicos pautados na política de proteger os “fracos e oprimidos” denunciam escancaradamente a necessidade primitiva dos “inteligentes” de garantir o acesso aos bens e matérias primas desses povos “ignorantes”.  Depressão, obesidade, perversão sexual, violência infanto juvenil, abuso e dependência de álcool e outras drogas, intolerância social, étnica e religiosa – esta é a resultante do “sonho americano”.  Deste mundo onírico e paranóico resultou também o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, sigla em inglês), uma excrecência desta mentalidade que nem de longe representa a comunidade científica desta área tão delicada da medicina: a psiquiatria.  Uma tentativa ingênua de tornar absolutamente objetiva uma ciência totalmente coberta e recheada de subjetividades.  Essa tal da “bíblia dos psiquiatras” foi encomendada pelas empresas norte-americanas de seguridade social diante da dificuldade de se determinar com “certeza” se aquele cidadão tem mesmo esta ou aquela doença mental.  Uma necessidade de determinar administrativamente a realidade ou não de um “sinistro” que acarretará um ônus prejudicial aos lucros. Ou seja, será que aquele “elemento consumidor” é mesmo doente mental? Não tem exame laboratorial que demonstre como prova irrefutável a doença: apenas laudos e relatórios médicos. E a realidade destes laudos depende de um único e real critério diagnóstico em psiquiatria que é observar a evolução. Nenhum sintoma é estatisticamente considerado patognomônico de nenhuma doença mental e a “urgência” em diagnosticar é de cunho meramente administrativo e não de tratamento e prognóstico.  O ato médico naturalmente tem um poder político de determinar os destinos de uma vida. E a subjetividade do adoecimento mental levantou a hipótese, administrativamente paranóica, de que se poderia aproveitar desse “poder político médico” para angariar benefícios fraudulentos. Afinal, já usaram a psiquiatria para desacreditar, perseguir e “internar” aqueles que ameaçam os esquemas de exploração política/econômica em todas as épocas, antes e depois de Cristo. O risco de abuso é real sendo possível e mesmo provável que alguns colegas menos afeitos aos códigos de ética de classe e que se aproximaram vertiginosamente do abuso de seu poder médico tenham enriquecido ilicitamente desta maneira. No entanto, não é porque existe uísque falsificado e mesmo leite batizado com água que os reais, verdadeiros e legítimos não existam.  Novamente o medo norte-americano de passar fome aliado as suas necessidades intelectuais de dominação por subjugação, obrigaram a Academia Americana de Psiquiatria (APA, sigla em inglês) a criar um “manual” de diagnósticos.  Essa tentativa de controlar o incontrolável é fruto típico daquela cultura do “faça você mesmo e do seu jeito”, pois “você vive num país livre” e suas escolhas pessoais “is not our business”.  Tal reducionismo também foi aproveitado pelas indústrias farmacêuticas que então passaram a “patrocinar pesquisadores”, hábeis manipuladores deste código internacional de doenças, “criando” entidades nosológicas. Essas novas doenças são sempre anexadas às novas drogas inspiradas no lucrativo “Prozac” da recente década do cérebro (1990 a 2000). De lá para cá vimos drogas realmente novas e mais eficazes com bem menos efeitos colaterais, porém as doenças sempre foram as mesmas. Mas para que criar drogas se apenas 2 a 4% da população iriam usá-las? Que tal ampliar o espectro de sintomas das doenças, ou seja, quanto mais sintomas forem incluídos como desta ou daquela doença, mais pessoas estariam sendo diagnosticadas e mais remédios seriam prescritos. E se ensinássemos uma psiquiatria totalmente com base no DSM? A indústria poderia agora contar com “prescrevedores autômatos”, que aceitariam as facilidades de um atendimento rápido, com base em algorítimos e no mínimo trabalho de preencher tabelas e questionários. As técnicas de “avaliação médica-psiquiátrica” se tornaram ridiculamente simplistas, imediatistas e descaradamente imiscuídas de “pseudociências”. Uma ciência criada por catedráticos que estariam desempregados e pobres se não aceitassem essa corruptela de emprestarem seus nomes a trabalhos científicos “encomendados” pelos patrocinadores, todos da indústria farmacêutica. Atualmente, as grandes referências universitárias do mundo estão “rendidas e vendidas” a este esquema onde os neo-psiquiatras ignoram totalmente o que e como fazem: apenas repetem e não refletem mais sobre a complexa interdisciplinaridade da vida mental humana. As neurociências agora ditam o que é “normal” dentro das necessidades de uma vida "americanalhada".  A visão sistêmica do ser humano, como um ser biológico-psicológico-social-espiritual é propriedade de alguns remanescentes estudiosos que já são distantes prosélitos dos grandes e verdadeiros pesquisadores  (vide matérias Dr. Guido A. Palomba - A decadência da psiquiatria no link abaixo) www.academiamedicinasaopaulo.org.br/?pg=conteudo&setor=6&chave=24&id=260&idioma=1

Peço desculpas á você, ser humano portador de algum transtorno mental: eu e alguns últimos colegas, cujos valores humanos são pautados na honestidade, na mente aberta e na boa vontade, estamos entrando em extinção. Peço desculpas também a alguns ex-alunos que eu acabei abandonando, pois me senti totalmente impotente diante da sedutora abordagem de colegas impostores que não deveriam ser psiquiatras e talvez nem mesmo médicos. Iludidos que estavam, iludiram alguns de nossos alunos que hoje estão por aí alimentando seus filhos com dinheiro de conveniências que apostam no medo e na ignorância dos usuários. Eu estou diante de uma realidade que não posso negar a sua ocorrência, porém registro aqui a minha total discordância: aceito por impotência diante dos fatos, mas não concordo por consciência da verdadeira realidade.  E enquanto eu tiver essa consciência ativa, continuarei assistindo àqueles que me procuram como facultativo e me prestarei a resgatar desta vala comum qualquer colega “americanalhado” que manifeste um real e sincero desejo de
 mudar.