A “american way of life” não é referência de uma vida mental
sadia. Tempo é dinheiro, almoço de
negócios, horas extras de trabalho, “happy hour”, produtividade é
competitividade, relações humanas de poder e controle: são metas de vida
guiadas pelo consumo sem sentido. Idealismos heróicos pautados na política de
proteger os “fracos e oprimidos” denunciam escancaradamente a necessidade
primitiva dos “inteligentes” de garantir o acesso aos bens e matérias primas
desses povos “ignorantes”.Depressão,
obesidade, perversão sexual, violência infanto juvenil, abuso e dependência de
álcool e outras drogas, intolerância social, étnica e religiosa – esta é a
resultante do “sonho americano”.Deste
mundo onírico e paranóico resultou também o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM, sigla em inglês), uma excrecência desta mentalidade
que nem de longe representa a comunidade científica desta área tão delicada da
medicina: a psiquiatria.Uma tentativa
ingênua de tornar absolutamente objetiva uma ciência totalmente coberta e
recheada de subjetividades.Essa tal da
“bíblia dos psiquiatras” foi encomendada pelas empresas norte-americanas de seguridade
social diante da dificuldade de se determinar com “certeza” se aquele cidadão
tem mesmo esta ou aquela doença mental.Uma necessidade de determinar administrativamente a realidade ou não de
um “sinistro” que acarretará um ônus prejudicial aos lucros. Ou seja, será que
aquele “elemento consumidor” é mesmo doente mental? Não tem exame laboratorial
que demonstre como prova irrefutável a doença: apenas laudos e relatórios
médicos. E a realidade destes laudos depende de um único e real critério
diagnóstico em psiquiatria que é observar a evolução. Nenhum sintoma é
estatisticamente considerado patognomônico de nenhuma doença mental e a
“urgência” em diagnosticar é de cunho meramente administrativo e não de
tratamento e prognóstico.O ato médico
naturalmente tem um poder político de determinar os destinos de uma vida. E a
subjetividade do adoecimento mental levantou a hipótese, administrativamente
paranóica, de que se poderia aproveitar desse “poder político médico” para
angariar benefícios fraudulentos. Afinal, já usaram a psiquiatria para
desacreditar, perseguir e “internar” aqueles que ameaçam os esquemas de
exploração política/econômica em todas as épocas, antes e depois de Cristo. O
risco de abuso é real sendo possível e mesmo provável que alguns colegas menos
afeitos aos códigos de ética de classe e que se aproximaram vertiginosamente do
abuso de seu poder médico tenham enriquecido ilicitamente desta maneira. No
entanto, não é porque existe uísque falsificado e mesmo leite batizado com água
que os reais, verdadeiros e legítimos não existam.Novamente o medo norte-americano de passar
fome aliado as suas necessidades intelectuais de dominação por subjugação,
obrigaram a Academia Americana de Psiquiatria (APA, sigla em inglês) a criar um
“manual” de diagnósticos.Essa tentativa
de controlar o incontrolável é fruto típico daquela cultura do “faça você mesmo
e do seu jeito”, pois “você vive num país livre” e suas escolhas pessoais “is
not our business”.Tal reducionismo
também foi aproveitado pelas indústrias farmacêuticas que então passaram a
“patrocinar pesquisadores”, hábeis manipuladores deste código internacional de
doenças, “criando” entidades nosológicas. Essas novas doenças são sempre
anexadas às novas drogas inspiradas no lucrativo “Prozac” da recente década do
cérebro (1990 a 2000). De lá para cá vimos drogas realmente novas e mais
eficazes com bem menos efeitos colaterais, porém as doenças sempre foram as
mesmas. Mas para que criar drogas se apenas 2 a 4% da população iriam usá-las?
Que tal ampliar o espectro de sintomas das doenças, ou seja, quanto mais sintomas
forem incluídos como desta ou daquela doença, mais pessoas estariam sendo
diagnosticadas e mais remédios seriam prescritos. E se ensinássemos uma
psiquiatria totalmente com base no DSM? A indústria poderia agora contar com
“prescrevedores autômatos”, que aceitariam as facilidades de um atendimento
rápido, com base em algorítimos e no mínimo trabalho de preencher tabelas e
questionários. As técnicas de “avaliação médica-psiquiátrica” se tornaram
ridiculamente simplistas, imediatistas e descaradamente imiscuídas de “pseudociências”.
Uma ciência criada por catedráticos que estariam desempregados e pobres se não
aceitassem essa corruptela de emprestarem seus nomes a trabalhos científicos
“encomendados” pelos patrocinadores, todos da indústria farmacêutica. Atualmente,
as grandes referências universitárias do mundo estão “rendidas e vendidas” a
este esquema onde os neo-psiquiatras ignoram totalmente o que e como fazem:
apenas repetem e não refletem mais sobre a complexa interdisciplinaridade da
vida mental humana. As neurociências agora ditam o que é “normal” dentro das
necessidades de uma vida "americanalhada".A visão sistêmica do ser humano, como um ser
biológico-psicológico-social-espiritual é propriedade de alguns remanescentes
estudiosos que já são distantes prosélitos dos grandes e verdadeiros
pesquisadores (vide matérias Dr. Guido A. Palomba - A decadência da psiquiatria no link abaixo) www.academiamedicinasaopaulo.org.br/?pg=conteudo&setor=6&chave=24&id=260&idioma=1
Peço desculpas á você, ser humano portador de algum transtorno mental: eu e
alguns últimos colegas, cujos valores humanos são pautados na honestidade, na
mente aberta e na boa vontade, estamos entrando em extinção. Peço desculpas
também a alguns ex-alunos que eu acabei abandonando, pois me senti totalmente
impotente diante da sedutora abordagem de colegas impostores que não deveriam ser
psiquiatras e talvez nem mesmo médicos. Iludidos que estavam, iludiram alguns
de nossos alunos que hoje estão por aí alimentando seus filhos com dinheiro de
conveniências que apostam no medo e na ignorância dos usuários. Eu estou diante
de uma realidade que não posso negar a sua ocorrência, porém registro aqui a
minha total discordância: aceito por impotência diante dos fatos, mas não
concordo por consciência da verdadeira realidade. E enquanto eu tiver essa consciência ativa,
continuarei assistindo àqueles que me procuram como facultativo e me prestarei
a resgatar desta vala comum qualquer colega “americanalhado” que manifeste um
real e sincero desejo de mudar.